16 de abril de 2010

Na RS do mês, os "inimigos" Beck e Clapton se declaram

A capa da matriz RS, em fevereiro

Um encontro memorável. Eric Clapton e Jeff Beck, dois dos melhores guitarristas do mundo, sempre se estranharam e se admiraram em mais de 40 anos de carreira, e agora no início do ano, por intermédio da Rolling Stone,se encontraram na casa do segundo, para botarem todos os pingos nos is. Além de ingleses, quase vizinhos, os dois passaram pelo mesmo conjunto no início da carreira e ali mesmo já mostraram que não eram guitarristas comuns (pra não dizer normais). O conjunto chamava-se Yardbirds, um dos pioneiros na releitura britânica do blues original americano e famoso por ter acolhido ao longo de sua formação, três pilares da guitarra mundial: Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page. Clapton entrou no final de 1963, quando a banda já tentava a sorte no circuito londrino, e permaneceu pouco mais de um ano, fase em que pôde aprimorar sua técnica única e ganhar prestígio ( ainda não como "God", mas já como "Slowhand"), deixar ótimas recriações modernas e legítimas de blues em compactos e LP e poder excursionar com um de seus heróis, o legendário Sonny Boy Williamson. Saiu por não concordar com o atalho pop que o conjunto insinuava em "For your Love" de 1965, single de sucesso que participou contrariado e foi determinante para sua saída. Foi aí que surgiu Jeff Beck, mas o que pouca gente sabe é que o primeiro convite foi para Jimmy Page, já um conhecido e requisitado músico de estúdio, que elegantemente explicou na época: "“Se eu não conhecesse o Eric e não gostasse dele, teria topado. Mas eu gostava muito dele e não queria que pensasse que fiz alguma coisa pelas suas costas". O próprio Page recomendou Jeff Beck, que sem cerimônias, aceitou no ato. Começava a fase mais psicodélica dos Yardbirds, influência do novo guitarrista, mais rock and roll e mais afeito aos dispositivos modernos do instrumento. Jeff introduziu novos efeitos como a slide, o fuzz e técnicas de equalização e feedback, além de sua performance de tocar rapidamente com uma só mão, que chamou a atenção na época até de Jimi Hendrix. Mais um ano e o baixista, Paul Samwell-Smiths resolveu saltar do trem, deixando a vaga para o friend e multi-instumentista Jimmy Page. Durante dois anos, a dobradinha Beck/Page aprontou o diabo, principalmente no final do grupo, quando Page assumiu a outra guitarra. Os dois controlavam com perfeição a distorção e os efeitos eletrônicos e levaram o instrumento a um patamar distante daquele conduzido pelo pop até então, um pontapé inicial ( também de Hendrix) que modificou para sempre o papel da guitarra no rock. Em 1968, apesar de todo o pioneirismo e criatividade em sua curta história, o Yardbirds encerrou suas atividades. Page ainda tentou uma sobrevida como News Yardbirds, mas logo virou o leme e fundou o Led Zeppelin. Beck ficou na sua, até que cruzou com um jovem escocês de voz rouca cheirando bourbon, de nome Rod Stewart e criou o cultuado e efêmero Jeff Beck Group, antes de cair nas águas profundas do jazz rock nos 70. Clapton passou por várias formações até se fixar como artista solo: John Mayall and the Bluebreakers (65), Cream (66 a 68), Blind Faith (69) e Delaney and Bonnie and Friends (70). E virou mito, como todos sabem.
Depois de 45 anos, dois heróis desta saga descrita, botam a conversa no lugar e trazem à tona histórias trancafiadas, versões revisitadas e declarações apaixonadas. Sobram reverências e invejas. Não que eles não se viram mais - tocaram várias vezes juntos a partir de 1981 - mas nunca de forma tão próxima e tão íntima. A profunda reportagem com os dois pode ser vista e revista na edição do mês da Rolling Stone Brasil. Resumo da elaborada e enorme matéria: os inimigos Clapton e Beck se amam.

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