14 de maio de 2010

História em Quadrinhos em revista de História, sim senhor!

Entre feitiçarias, máquinas voadoras e prostitutas....a Turma da Mônica.
Como já comentei em outra oportunidade, sou camundongo de banca de jornais, daqueles que fuçam todo o território pertencente ao jornaleiro e suas divisões estabelecidas. Por esse motivo, sempre evitei assinatura, que tira o prazer imensurável de adentrar uma banca, além de corroborar para o fim da sinergia entre vizinhos e confrades das redondezas. Papo de banca é tão rico quanto papo de boteco ou de churrasco de domingo. Mas voltando ao assunto do espaço físico da banca, sempre prestei mais atenção nas prateleiras de música e quadrinhos, minhas paixões de sempre, mas também nos jornais, nos fascículos e coleções diversas. Ultimamente, com o crescente avanço do nicho "nostálgico" nas pautas editoriais, surgiram dezenas de revistas voltadas para a História, assim mesmo, com H maiúsculo. A maioria centra fogo na história mundial, com ênfase em guerras e biografias de grandes figuras-chaves da humanidade. Como o meu foco coloca sempre o Brasil à frente, adicionei à minha cesta mensal de banca a Revista de História da Biblioteca Nacional, embora anos antes eu já comprasse a excelente Nossa História, que tinha à frente Pedro Correia do Lago em parceria com a mesma BN, mas que acabou fechando depois de desentendimentos e uma curta sobrevida solo. A publicação da Biblioteca Nacional surgiu desse rebuliço e mantém-se solerte como única revista unicamente voltada para a historia brasilis.
Eis que em seus dois últimos números, me deparo com um assunto que nunca pensei ver entre os artigos acadêmicos da publicação: quadrinhos! No mês passado, o pesquisador Gonçalo Júnior expôs com a propriedade de sempre, a história do famoso Gibi, que virou sinônimo de revista em quadrinhos no Brasil. E o último número, de maio, traz artigo do professor Waldomiro Vergueiro, da USP, um dos pioneiros em levar os quadrinhos para o universo acadêmico. O tema, surpreende quem conhece superficialmente o trabalho de Maurício de Sousa,o mais bem sucedido profissional de quadrinhos no Brasil: ao capturar uma história longínqua da turma da Mônica, original de 1971 ( Mônica nº 15 – Editora Abril) , intitulada Os Azuis, o professor analisa a crítica crônica contra o trabalho do autor, acusado de superficial , violento e de exercer má influência sobre o público infantil, e traz à baila o contraponto inserido nesta história específica, que trata com rara delicadeza temas como racismo, discriminação e cultura das aparências. Eu que acompanho gibis daquela época vou mais além: antes de Roberto Carlos, Maurício de Sousa já abordava ecologia e degradação do meio-ambiente, em historinhas do Horácio, do Astronauta e da própria Turma da Mônica. Se a superficialidade imperou nas décadas seguintes, aí é uma outra história, mas a avaliação é pertinente e apropriada para sepultar enganos bisonhos.
Já estava na hora das HQs entrarem oficialmente nas discussões e análises acadêmicas e esse espaço em revista especializada abre novos horizontes para a nona arte. Se o cinema, o teatro e a fotografia sempre pautaram reportagens históricas, porque não os quadrinhos?

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