24 de maio de 2010

O exílio exultante dos Stones

Meados de 1971: enquanto o show business continuava em rebordosa por incontáveis desgraças - fim dos Beatles, mortes de Jimi Hendrix (18/09/1970), Janis Joplin (04/10/1970) e Jim Morrison (03/07/1971), os Stones seguiam (como todo o resto do mundo), mais perdidos do que nunca. As diferenças entre Keith Richards e Mick Jagger começavam a ficar nítidas demais: o primeiro se enfiando nas drogas pesadas com os dois pés, o outro assumindo as rédeas do grupo, mas também escancarando seu lado 'celebridade do jet set', com direito à casamento milionário e badalações sem fim. O grupo, endividado até o pescoço sob o peso das taxas exorbitantes do fisco britânico, resolveu debandar para a França, onde os impostos eram bem mais brandos. No território francês, mais precisamente na badalada Côte D'Azur, Keith alugou uma mansão decadente, Villa Nêllcote, e foi ali, neste climão de drogas, decadência e fim dos utópicos sonhos sessentistas, que os Stones, sem mesmo saberem, fizeram um dos sons mais sujos, crus, livres e libertários da história do rock. As gravações para o próximo disco ( o 10º da carreira) tinha tudo pra não dar liga, mas do caos se fez o céu. Keith alternava alquimias no banheiro com riffs inimagináveis, vindos de algum lugar do Mississipi de décadas atrás; Mick Jagger arrancava com força todos os seus velhos ídolos de rithm'blues da garganta; Watts e Wyman sumiam por um tempo da baderna, mas quando assumiam seus instrumentos, tocavam com raiva e rigor; Mick Taylor exortava a sombra do finado Brian Jones, morto há dois anos, e transpirava blues por todos os poros. Os convidados se incorporavam à densidade nevoenta das sessões: Nicky Hopkins, fantástico nas cordas; os sopros, idem; as participações vocais femininas, minha nossa!
Exile on Main Street, o discão feito no exílio francês, foi lançado no ano seguinte. Quando a bolacha saiu, a crítica, perdida como nunca, não entendeu nada. O público não sacou de imediato, mas com o passar das décadas, elevou-o ao panteão das grandes obras musicais. Até Mick Jagger demorou a assimilá-lo e só recentemente percebeu a pérola que sua banda concebeu. Em Exile, tudo é esquisito: os vocais as vezes parecem saídos de um buraco; ouve-se vozes, gritos, instrumentos rústicos. Mas o frescor e a vibração preenchem tudo e o resultado é um álbum histórico e único.
Depois do livro e da música inédita do mês passado, estou trazendo mais uma vez o assunto Exile para este blog, mas o motivo é forte. Depois de quase 40 anos ( e eu estou pulando de propósito o primeiro lançamento em CD, que não capturou toda a força do original), após uma apurada pesquisa do produtor Don Was, que mergulhou em centenas de horas de gravações do período, o tão esperado Exile on Main Street, remasterizado e retrabalhado com empenho e cuidado, volta em três versões: 1) com as 18 músicas originais, em remasterizações mais próximas possíveis das gravações do LP; 2) edição de luxo, incluindo as gravações originais + 10 canções inéditas encontradas pela produção ( entre elas dois takes alternativos de Loving Cup e Soul Survivor); 3) super luxo, com a edição de luxo citada + o documentário em DVD ( lançado por Jagger em Cannes), livro de 50 páginas e discos em vinil.
É do cacete ou não é?
E atenção, atenção: soube pela internet que o canal Multishow vai passar o documentário de Exile On main Street na íntegra, no dia 04/06, às 23 horas. Chequem por favor a programação, pois se realmente for vero, é imperdível. Abaixo, uma das músicas inéditas do Exile 2:
http://www.youtube.com/watch?v=_Oy2-V286H8

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