22 de julho de 2010

Chega ao fim a longa história impressa do Jornal do Brasil


O JB impresso faria 120 anos em 2011, mas conforme o dono, Nélson Tanure, o velho jornal não estará mais nas bancas para comemorar a data. Em setembro, segundo o mesmo Tanure, permanecerá em atividade somente a redação do JB online. Triste fim para um jornal que viu três séculos diferentes em sua existência e revolucionou a imprensa brasileira pelo menos uma vez, em sua reforma gráfica iniciada em 1956 e consolidada nos anos 60. De 1891, ano de fundação até meados dos anos 50, o Jornal do Brasil se transformara numa grande tribuna popular, com classificados enchendo as páginas e as notícias cotidianas tomando o lugar da cobertura política mais ostensiva. Se o jornal nascera totalmente intelectual, primeiro com Joaquim Nabuco e logo depois com Rui Barbosa, sofrendo reveses políticos, invasões e até fechamento temporário, ao entrar no século XX, assumiu uma postura popularesca - a até sensacionalista em algumas ocasiões- mas sem tomar partido em movimentos políticos, como o da Revolta da Chibata. Assim o jornal permaneceu por 50 anos: popular, carregado de classificados, voltado para a periferia e os esportes. No primeiro período, os irmãos proprietários Mendes passaram o controle para o Conde Pereira Cordeiro, que seguiu no leme até a sua morte no início dos anos 50. E foi a partir daí que o Jornal do Brasil começou de fato a marcar história na imprensa nacional. Primeiro, a viúva, Condessa Maurina, assumiu, trazendo para o comando o já veterano de jornal Aníbal Freire e o genro Manuel Francisco do Nascimento Brito. Em seguida, com a vinda do poeta Reynaldo Jardim, que já tinha programa na rádio JB, inicia-se o Suplemento Dominical, embrião do Caderno B, que iria misturar em suas páginas, poesia com ciência, artes plásticas, música e literatura, tudo com um grafismo concretista inédito. O CDJB, iniciado em 1956 foi o primeiro caderno da imprensa brasileira exclusivamente dedicado à variedades e cultura e tornou-se modelo para todos os segundos cadernos e cadernos culturais subsequentes. Foi em suas páginas que o movimento concretista cravou o seu manifesto inaugural. A transformação do caderno incentivou a Condessa a mexer graficamente em todo o jornal. Nesse período de transformação gráfica passaram pela chefia editorial Odylo Costa Filho ( 57 a 59), Janio de Freitas (59 a 61) e Alberto Dines, que foi quem consolidou a reforma editorial e permaneceu no jornal por 12 anos. Os nomes que passaram pelo Suplemento e Caderno B ( desde 09/1960) impressionam: Reynaldo Jardim, Mário Faustino, Ferreira Gullar, os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, Mário Pedrosa, Amílcar de Castro, Drummond, Clarisse Lispector, Fernando Sabino, Henfil, Ziraldo, Carlos Leonam. Sem falar nos colunistas de outros cadernos, como João Saldanha, Carlos Castelo Branco, Armando Nogueira e Alceu Amoroso Lima. Outro grande feito no período foi a implementação por Dines, do Departamento de Pesquisa ( depois CPDoc) que também serviria de modelo para outros bancos de dados que viriam. Bom... depois foi depois. Veio a ditadura, houve algumas represálias políticas e a censura de praxe. O último grande acontecimento em termos editoriais foi o surgimento em 1976 do Caderno Domingo, que fez até um certo estardalhaço. Quanto aos bastidores, os proprietários sempre bateram na tecla que durante a ditadura houve boicote econômico intenso ao jornal, que inclusive foi prejudicado em várias concessões para emissoras de TVs. Independente do que houve realmente, o jornal começou a ficar mal das pernas ainda nos anos 70 e nunca mais se estabilizou. A Condessa morreu nos anos 80, Nascimento Brito se afastou nos anos 90 e o jornal ficou nas mãos de Nelson Tanure a partir de 2001. Nos últimos tempos, diminuiu de tamanho, enxugou páginas, demitiu medalhões e até as tirinhas de quadrinhos sumiram. Triste fim para um jornal que deixou marcas.

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