30 de setembro de 2010

Os Sousa voltaram!

A coleção L&PM Pocket, que já vem lançando material do Maurício de Sousa há um tempo, surpreendentemente lançou em seu número 872 as clássicas tirinhas da família criada por Maurício de Sousa em 1968. Surpreende porque desde 1989 não se publicava mais as "desventuras" dos Os Sousa, que levou esse nome por ser inspirada inicialmente na família do próprio Maurício. O grande destaque da série é o personagem Mano, o camarada folgazão e espaçoso, que atazanou sem trégua seu irmão e a cunhada, em situações impagáveis. Quem leu o Diário do Grande ABC nos bons tempos, entre os 70 e os 80, além do lendário Díarinho, também topava com as inesquecíveis tirinhas dos Os Sousa. Vale a pena revê-los, nas melhores livrarias e bancas do ramo. Eu tive um imenso prazer, comparável ao lançamento do álbum do Nico Demo anos atrás. Que apareçam mais personagens "sumidos" do baú do Maurício de Sousa.

Capa do Mês ( Serafina/FSP Setembro 2010)

Capa da revista Serafina, da Folha de São Paulo, com o poeta Ferreira Gullar, 80 anos. A foto é de Murillo Meirelles, que foi muito feliz na concepção deste close incrível.

29 de setembro de 2010

Jerry "The Killer" Lewis ataca novamente!

Jerry Lewis é um dos poucos pioneiros do rock que ainda está por aí. Elvis Presley, embora muitos não admitam isso, morreu em 1977. Bill Haley também se foi novo ( no início dos 80). Carl Perkins, o homem que moldou o rockabilly ( "Blue Suede Shoes") partiu em 1998. O sutil Roy Orbison, teve uma sobrevida digna nos anos 80, mas não teve tempo de saborear a fase, pois faleceu em 1988. O gigante Fats Domino( em todos os sentidos) sobreviveu ao Katrina e já passou dos 80 anos, mas não se apresenta em público há tempos. Fora os que morreram no auge da mocidade, como Buddy Holly ( em acidente de avião em 1959, que vitimou também Ritchie Valens e Big Bopper). Sobraram três, coincidentemente, os mais elétricos e mais "desencapados" de todos eles: Little Richards, Chuck Berry e ele, o endiabrado pianista do rock and roll, Jerry Lee Lewis, que completou 75 anos hoje e fará uma apresentação especial logo mais, cantando seus sucessos de sempre ( "Whole Lotta Shakin' Goin' On" e "Great Balls of Fire") e algumas de seu disco recentemente lançado, "Mean Old Man" ( Homem Malvado), disco que aliás, conta com parceiros musicais pra lá de especiais - Keith Richards, Mick Jagger, Ron Wood, Ringo Starr, Kid Rock e Willie Nelson. Matéria da Reuters sobre a entrevista coletiva dada pelo veterano ontem no Museu Grammy reclama de suas respostas evasivas e lacônicas. Mas cá pra nós, como responder com entusiasmo perguntas como: "-Como está Carl Perkins, seu colega de gravadora Sun Records?". Jerry até que respondeu educadamente: "-Um grande sujeito, um amigo muito querido." Como eu já mencionei, o colega Carl Perkins não está mais entre nós há 12 anos.
Se o velho rocker não está muito aí para conversa, o mesmo não se pode dizer de suas peripécias ao piano. Quem viu as gravações do disco garante que The Killer tocou tudo em um take só, sem delongas nem xurumelas. Estremecendo chão e pessoas à volta. Jerry continua, sem dúvida, um sujeito sacudido.
Seguem duas apresentações típicas de Lewis, a primeira no longínquo 1957 e a última ao lado de friends ( Ron Wood, Keith Richards, Solomon Burke,Tom Jones, entre outros) já com 71 anos. Os movimentos não são os mesmos, claro, mas e a aura que se forma à sua volta?
http://www.youtube.com/watch?v=8yRdDnrB5kM
http://www.youtube.com/watch?v=4j1OU9aqq08&feature=fvw

24 de setembro de 2010

Discos que nos Tocam (5): Ângela Ro-Ro (1979)

Quando Ângela Ro-Ro, lenda da noite carioca, finalmente lançou seu disco em 1979, até os que acompanhavam sua longa jornada blueseira madrugada adentro, tiveram que parar tudo e beber uma água com açúcar. Aquele lançamento era realmente um soco no fígado da vaporosa MPB vigente. Tava tudo lá naquele vinil: a voz rouca impregnada de whisky, a fossa debochada, o deboche enfossado, o piano blueseiro, o desabafo nas letras confessionais. Ângela Ro-Ro inteira ali, de carne e fosso. E ela sempre foi assim. Ganhou o apelido por conta da risada escandalosa e a voz rouca, mas em se tratando de composição, sempre arrancou-as de algum lugar entre o coração e a alma. No final dos 60, bem novinha, foi tocar em Londres e acabou ficando por lá um bom tempo, fazendo inclusive, uma participação gaiteira no disco de Caetano feito na terra do Fog, Transa (1972). Na volta, participou do Festival de Rock de Saquarema (1974) e topou com Rita Lee & Tutti Frutti. Entre idas londrinas e noites clandestinas, criou-se ao seu redor uma verdadeira legião underground de fãs notívagos, até que veio este disco inaugural, com Ângela já aos 29 anos. A compositora já lotara no início de 1979 o Teatro Ipanema, em sessões à meia-noite ( tudo a ver com Ângela) e participara do badalado disco Mel de Maria Bethânia ( tocando piano na faixa Gota de Sangue, de sua autoria) e o disco homônimo de estréia foi o desfecho perfeito para um ano em que os holofotes se voltaram com justiça para ela. O vinil em questão, lançado pela Polygram, não traz uma música ruim sequer - blues encorpados, baladas arrasadoras, cozinha forte de bar, piano avassalador. Um long play entre os melhores dos anos 70,  que rodou muito na vitrola de Cazuza e fez a cabeça de muita gente boa como Cássia Eller,entre tantos.
Quando eu boto ele aqui em casa, a noite entra em animação suspensa. É tiro e queda.

Faixas:
Cheirando a Amor
Gota de Sangue
Tola foi você
Não há Cabeça
Amor, meu Grande Amor
Me Acalmo Danando
Agito e Uso
Mares de Espanha
Minha Mãezinha
Balada da Arrasada
A mim e Mais Ninguém
Abre o Coração

https://www.youtube.com/watch?v=kwXbssnJsFU

19 de setembro de 2010

Dom Quixote, uma bela obra itinerante

Ontem fui com a família na gigantesca e lotada Livraria Cultura do Conjunto Nacional, e logo na entrada do prédio, nos defrontamos com uma maravilhosa obra intitulada Dom Quixote. Embora (soube depois) essa incrível exposição exista desde 2005, inicialmente no próprio Conjunto Nacional e nos anos seguintes, em diversos locais da região Sudeste, só pude ter o prazer de encontrá-la agora em 2010. As esculturas de Dom Quixote, Sancho Pança e o cavalo Rocinante, vistas ao vivo, encantam e surpreendem, tanto pelo tamanho como pelas centenas de objetos recicláveis que fazem parte das três estruturas. A partir de terça, a exposição sai mais uma vez do seu espaço original e se instala na estação Sacoman do metrô ( no Ipiranga). Vale muito a pena ver com os próprios olhos.
Para saber mais ( os responsáveis, a inspiração, rota histórica e detalhes e materiais das obras):
http://www.ccn.com.br/dom_quixote.php
http://www.cooperaacs.org.br/

17 de setembro de 2010

Baú do Malu 27 - Folheto Convite do Clube "Amigos do Sesc e Senac" - 3º Festival de Arte ( 23/03/1950)

Quem é rato de sebo como eu, sabe: por detrás das capas dos livros raros existe um verdadeiro tesouro escondido. Dentro de páginas amareladas de livros antigos já cheguei a encontrar dinheiro, convite, postal, ticket e poesias manuscritas. Sem contar as dedicatórias. Outro dia, me deram uma edição espírita de autoria de Chico Xavier, dos anos 70, e quando eu abro a primeira página, está lá, uma dedicatória do próprio Chico Xavier. Este exemplo que colei acima explicita bem estes "encontros": um folheto de programação datado de 23/03/1950 que eu encontrei dentro de um velho livro da coleção do meu pai ( eh, sempre o velho João) do saudoso Círculo do Livro. Na verdade, é um programa-convite do evento intitulado "3º Festival de Arte", encenado pelo "corpo de baile da Escola de Dansas (sic) Clássicas de Maria Zemerova" no "Auditório da Escola Caetano de Campos" (ainda na Praça da República), organizado por professoras da centenária escola e produzido pelo Clube "Amigos do Sesc e Senac. Realmente um achado histórico. Assim que encontrei esse documento, entrei em contato com o Centro de Referência em Educação Mário Covas para que esse convite seja incorporado ao acervo específico da Escola Caetano de Campos ( fundada no século XIX!!). Eu guardo coisa pra caraco, mas também tenho consciência. Existem certos docs históricos que devem permanecer em centros documentais especializados. É o caso, e espero que sirva como luva para eles. Aliás, quem quiser conhecer, vale uma boa olhada no site do Centro, que tem muita informação essencial sobre a história da educação em São Paulo.

15 de setembro de 2010

O louco Jim Carrey em impagáveis performances musicais

Jim Carrey não é só o cara que mais faz caretas no cinema. Ele também tem seus méritos como comediante e costuma se entregar de corpo e alma aos personagens, mesmo que suas extravagâncias cênicas às vezes esconda sua real concentração. Mas vamos dar um desconto, pois ao que parece, Jim é daquele jeito também fora das câmeras. Essa entrega total faz com que ele faça muitas cenas mirabolantes sem precisar de dublês, como pular de bungee jump ou extrapolar em lances circenses ( o que já lhe ferrou algumas costelas). A maioria de seus filmes também tem um fundo musical bem intenso, incluindo cenas em que ele próprio ataca de vocalista. Selecionei quatro trechos hilários abaixo. O primeiro link traz a já clássica performance do ator, cantando alucinadamente em um karaokê caseiro, Somebody to Love, classicão do Jefferson Airplane, no filme O Pentelho (Cable Guy - 1995/1996). O segundo traz a sua interpretação entusismada para a canção Jumper, do Third Eye Blind, ao lado de um suicida em potencial no filme Sim Senhor (Yes Man - 2008). Detalhe curioso: no final, ele dá uma batida no violão e grita "I got blisters on my fingers" (Eu tenho bolhas nos meus dedos), mesma frase usada por Ringo Starr no fim da música Helter Skelter, após pequeno solo de bateria. O terceiro link, é um trechinho impágavel em cena inicial de O Mentiroso (Liar Liar - 1997) e o último traz uma incrível e rara gravação de I am Walrus ( talvez a música mais pirada dos Beatles) ao lado do lendário produtor dos Fab Four, George Martin (que riu muito com o maluco) para a trilha do filme O Mundo de Andy (Man on the Moon -1999), sobre a tragicômica vida do humorista e ator performático Andy Kaufman(1949-1984), e que também protagoniza.Vida longa ao Crazy Jim.
http://www.youtube.com/watch?v=mMSC-GhY0-g  
http://www.youtube.com/watch?v=yvkMy-Pj64E&feature=related 
http://www.youtube.com/watch?v=biUHyy9dExc
http://www.youtube.com/watch?v=lTO85q4oc2c&feature=related

13 de setembro de 2010

Wesley Duke Lee

Faleceu ontem, aos 78 anos de idade, o múltiplo artista Wesley Duke Lee. Desenhista, gravador, artista gráfico, professor, fotógrafo, Wesley participou de grupos e movimentos cruciais, como o Realismo Mágico e o  Rex nos anos 60. A sua inquietude crônica o fez um experimentalista de primeira hora: além de pioneiro em happenings no Brasil, passou pela pop art, criou objetos tridimensionais, experimentou cartografia, caligrafia oriental, pesquisou técnicas de xerox, vídeo, polaroid e várias outras reproduções eletrônicas de imagens.
Assista o vídeo do Itaú Cultural, em que ele chama a si mesmo de "artesão de ilusões":
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=877
E nesta galeria do UOL, grandes momentos de sua longa carreira:
http://entretenimento.uol.com.br/album/wesley_duke_lee_album.jhtm?abrefoto=4#fotoNav=1

Clausuras, dores e casulos transformadores

Renato Russo na adolescência (Arquivo Pessoal)
Conversando com a Cris sobre o ótimo livro "O Filho da Revolução", do jornalista Carlos Marcelo, que narra a trajetória do fundador da Legião Urbana em paralelo à própria história da capital federal ( Renato e Brasília nasceram no mesmo 1960), comentei que uma das passagens mais intrigantes é aquela em que o jovem Renato Manfredini Jr. é diagnosticado com uma terrível doença chamada epifisíólise, que desgasta ossos e cartilagens a ponto de deslocar o fêmur da bacia. Renato não podia se exercitar e sequer caminhar, o que o imobilizou na cama por dois anos. Para um garoto de 15 anos essa condição certamente é o inferno na Terra, mas nesse caso, acabou se transformando num laboratório de idéias e planos que sedimentaria toda a carreira do futuro compositor. Enclausurado e coberto de dores, Renato criou nesse período uma banda de rock imaginária (42nd Street Band) e uma persona, o vocalista e baixista Eric Russel, que já prenunciava seu futuro nome artístico. Quando curou-se, depois dos 18, todos os rabiscos, rascunhos e estratagemas planejados em seu casulo involuntário, deram a faísca necessária para a formação do seminal Aborto Elétrico e toda a postura rocker que o acompanhou pelo resto da vida. O sofrimento propiciou um plano de vôo milimetricamente estudado.
As biografias não mentem: convalescências, prisões, doenças mobilizantes, acidentes, entre outras rupturas radicais, muitas vezes servem como chaves que evocam vocações, ativam sonhos escondidos e transformam para sempre a vida e a postura dos atingidos.

Típico pôster de Griffin (1968)
Rick Griffin, famoso artista gráfico e quadrinista californiano, era também surfista dos bons e seus primeiros trabalhos traziam toda a cultura surfer para a arte do início dos anos 60, abusando de ondas gigantescas e personagens ensolarados.Até que em 1964, sofreu um grave acidente de carro rumo à São Francisco, onde lesionou seriamente um olho e teve várias cicatrizes permanentes no rosto. A partir daí, o surfista louro e galã Griffin trocou o bronzeado e as bermudas por um tapa olho e uma vasta barba cinza, e mudou totalmente sua concepção artística, que passou a incorporar elementos psicodélicos e darks como caveiras, lagartos cobras e esqueletos. Foi a partir desse terrível acidente que Griffin se encontrou como artista, criou os mais incríveis posters de bandas hippies dos anos 60/70 e pôde virar lenda antes de morrer ( em outro acidente, em 1991), tornando-se ao lado de Stanley Mouse, Victor Moscoso, Alton Kelly e Wes Wilson um dos 'Big Five" da psicodelia.

Tom Jobim mergulhado na música (anos 50)
Tom Jobim era na juventude um exímio esportista, caçador,nadador e mergulhador, até que em uma brincadeira besta na praia, caiu de mau jeito e avariou seriamente as costas. Impedido de praticar esportes, "mergulhou" de vez no piano e na noite. O resto é história.
"O Filho da Revolução" de Carlos Marcelo
Lembrei de três casos, mas com certeza há muitos enredos similares em que uma "avalanche" no caminho abriu clareira para um novo atalho, mais transformador e corajoso que o primeiro. Quem lembrar de outros, é só acrescentar.
Mais sobre:
http://www.renatorussoolivro.com.br/home.asp
http://www.rickgriffinink.com/
http://passagemcultural.blogspot.com/2009/01/em-1927-nasceu-o-maestro-soberano.html

1 de setembro de 2010

Baú do Malú 26 (Especial 100 Anos de Corínthians) - Autógrafos Corínthians 1980

No embalo do centenário do coringão velho de guerra, desencavei esta preciosidade: autógrafos dos principais jogadores da equipe corinthiana do início de 1980, que acabara de vencer o Campeonato Paulista de 1979 ( que teve a final em 1980). A data: 21/03/1980. O local: Luxor, em Maceió - a equipe acabara de jogar com o Remo pelo Campeonato Brasileiro ( perdeu por 1x0) e estava chegando à Alagoas onde jogaria com o CRB ( ganhou de 2x1)*. Pelo que vi do precioso papel acima, todos os jogadores titulares assinaram, com exceção de Amaral, mais alguns reservas, o médico, o técnico interino ( que daria lugar para Jorge Vieira já no outro jogo) e até o jornalista Flávio Adauto. Começando lá de cima, temos: Flávio Adauto, jornalista na época do O Estado de Sao Paulo, Gil, Solito, Renê de Toledo (médico), Wilsinho, Mauro, Nicanor (de Carvalho, técnico interino), Wladimir, Jairo, Píter, Caçapava, Geraldão, Basílio, Carlinhos, Biro-Biro, Zé Maria, Sócrates ( o único que escreveu mais que o nome: 'uma lembrança de'), Márcio e Wagner ( que deve ser o Vaguinho, embora seu nome de batismo seja Wagno). Um timaço, que ainda dispunha de muitos heróis de 1977, e que já se preparava para um futuro próximo glorioso ( o da Democracia Corinthiana), que teve Sócrates como um de seus artífices. A assinatura ao lado da do Basílio não reconheci- quem souber me avisa.
Este baú especial vai para todos os corinthianos apaixonados da nação alvinegra, e especialmente para meu pai, João Massolini, responsável-mor pelo meu corinthianismo, meu falecido vô Antonio Massolini ( goleiro da GM nos anos 30/40 e outro corinthiano roxo), meu brother Marcelo Tieppo, os irmãos Engelmann (Leo, Rogério & Lu), Tio Aramis, corinthianíssimo e sócio antigo, meu sogro Demeure, meu cunhado Zé ( e Flavito e Meurinho, da semifinal pra frente), minha mana Helô, meus filhos Letícia e Biel ( no bom caminho), os cenbraconianos Edu Soares, Colela, Wilsão, Tadeu e Denise, Mazurão,Wally, e minha amada companheira Cris. Viva nós!

* as informações dos jogos da época foram tiradas do Almanaque do Timão ( Abril - 2000) do grande Celso Unzelte, um dos maiores corinthianos dentro do jornalismo esportivo.