31 de julho de 2011

O AcervoSorve 5 : As Aventuras de Sir Charles Mogadom & do Conde Euphrates de Açafrão (Editora Terceiro Nome - 2010)

Desde o ano passado eu estava de olho nesta autêntica e surreal obra saída da imaginação dos irmãos Matuck, e graças ao infalível faro de Paulicus Bianchi I, ei-la cá, devidamente incorporada ao acervo. Esse grande livro forjado por Artur, Carlos e Rubens Matuck, artistas premiadíssimos,  remonta à 1970 (!) quando o mais velho, Rubens, do alto de seus 11 anos, iniciou a onírica concepção do mundo paralelo de Mogadom & Euphrates, e prossegue interminente, durante quatro décadas, com as participações precisas de seus irmãos Artur e Carlos, em paralelo com as diversas atividades dos autores. O livro, com 160 páginas e formato de 26,5 x 36 cm, pode ser considerado "de arte", mas também " de quadrinhos": os desenhos são quase todos feitos com lápis de cor e as influências múltiplas vão desde anúncios antigos, estampas de Eucalol e embalagens de remédios à literatura e o próprio mundo dos quadrinhos ( que como os autores explicitam, "...livro que pode ser traduzido como uma grande homenagem ao gênero"). Entre os autores citados como referências, só ícones da HQ: Flavio Colin ( de "O Anjo"), Angelo Agostini ( ítalo-brasileiro pioneiro dos quadrinhos mundiais), Georges Remi (o nome real de Hergé, criador de Tintim), Carl Barks ( o homem dos "patos" da Disney), Hal Foster ( de "O Principe Valente" e "Tarzan"), Winsor McCay ( autor do moderno e incomparável "Little Nemo in Slumberland", de 1905, talvez a maior influência para esta obra) , Ub Iwerks, Floyd Gottfredson ( os dois são artistas pioneiros da Disney) e Ziraldo ( de "Pererê" e "Menino Maluquinho"). Como são muitas informações e detalhes, o jornalista e crítico de arte Oscar D'Ambrosio introduz o leitor às histórias, comentando o processo criativo dos autores e as obras que inspiraram a produção, além de entrevistas fictícias com personagens.
Dentro desse surreal mundo paralelo, cabe até a participação, em dois capítulos, de um grande inventor do nosso mundo, Alberto Santos-Dumont. Lançada no final de 2010, os críticos não entenderam bem a proposta, justamente por ser uma obra sem limite de gênero, sem enredo linear, que mescla técnicas e formatos, bem de acordo com os dois focos principais: o sonho e o universo paralelo infantil. Entender criticamente essa explêndida sequência de quadros oníricos e surreais realmente é perder tempo. Torna-se inútil, como tentar "explicar" poesia. Feliz de quem segue viagem, sem o ranço e a seriedade dos "especialistas", ao sabor do vento e das sensações criadas pelas paisagens magníficas do universo matuckiano.

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