29 de abril de 2013

Paulo Vanzolini (1924-2013)

LP de 1981, o primeiro em que cantou suas próprias composições
Acabei de colocar o CDzinho nº 16 da Coleção Raízes da Música Popular Brasileira da Folha, para escrever esse post sobre o grande Paulo Vanzolini, falecido ontem na cidade que tanta adorava. A primeira vez que botei o ouvido em alguns de seus sambas milimétricos foi nos anos 70, ao fuçar na coleção de fascículos do meu pai, lançada pela Abril Cultural com a história da nossa MPB. Numa talagada só, do alto dos meus 10,11 anos, conheci mais a fundo a obra e a história de monstros sagrados como Chico Buarque, Ismael Silva, Cartola, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa, Nelson Cavaquinho, entre tantos outros que saíram na série. Um dos fascículos focava dois autores paulistanos, na vida real amigos: Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini. Ali, no mini-LP com músicas de ambos - que embora vivessem tomando uma branquinha juntos, jamais fizeram um samba juntos - eu conheci dois dos mais gabaritados estilistas do samba paulista, um samba bem diferente do carioca, por sinal. Me apaixonei na hora por aquelas letras cheias de referências à cidade da garoa e seus habitantes multifacetados e melodias tão densas e sincopadas. Decorei várias daquelas músicas e passei a cantá-las pela vida afora. Uma das minhas preferidas era Samba Erudito, maravilhosamente escrita e musicada por mestre Vanzolini:

Samba Erudito
Paulo Vanzolini

Andei sobre as águas
Como São Pedro
Como Santos Dumont
Fui aos ares sem medo
Fui ao fundo do mar
Como o velho Picard
Só pra me exibir
Só pra te impressionar

Fiz uma poesia
Como Olavo Bilac
Soltei filipeta
Pra ter dar um Cadillac
Mas você nem ligou
Para tanta proeza
Põe um preço tão alto
Na sua beleza

E então, como Churchill
Eu tentei outra vez
Você foi demais
Pra paciência do inglês
Aí, me curvei
Ante a força dos fatos
Lavei minhas mãos
Como Pôncio Pilatos

Cantei muito essa pérola, principalmente com meu parceiro de roda de violão Rick Berlitz. Depois fiz questão de citar o mestre em um de meus poemas ( que irá sair em uma antologia ainda este ano). Em duas longas entrevistas entre 2010 e 2011 com dois especialistas da MPB, Zuza Homem de Mello e Pelão ( João Carlos Botezelli), para uma pesquisa sobre a Gravadora Marcus Pereira (inéditas - o livro, do M.Mazuras, iria sair pela Lei Rouanet mas não foi aprovado), a frequência do nome Vanzolini foi inevitável - seu primeiro disco autoral, pelo selo (ainda com o nome de Jogral) saiu apenas em 1967 (e cantado por outros artistas). Boêmio convicto (até o fim da vida), bares como o Jogral nos anos 60 eram sua segunda casa e neles mostrava suas composições ao vivo - como não lia música, muitas ficavam no subconciente dos frequentadores e amigos e só eram gravadas muito tempo depois ( e às vezes nem eram). O samba e a cachacinha eram seus hobbys - a profissão mesmo sempre foi zoólogo, atividade que lhe rendeu prêmios e prestígio. Mas pérolas eternas como Ronda e Volta por Cima e outras jóias raras menos conhecidas mas também brilhantes, ficarão para sempre nas rodas, mesas e casas onde se ouve samba/música de respeito e sem obviedades.
Segue um dos melhores perfis do compositor, escrito em 2012 pela competente jornalista Ana Ferraz:
http://www.cartacapital.com.br/cultura/a-sabedoria-do-boemio-2/

26 de abril de 2013

Dois vídeos bacanas: Eduardo e Mônica versão moderna e Corrida Maluca em comercial de carro


Fotos:Divulgações
Dois vídeos recentes me chamaram a atenção pela criatividade. O primeiro, criado e produzido pela equipe do Duka7 * (http://duka7.com.br/), traz uma "recauchutagem" moderna do famoso casal Eduardo e Mônica, protagonista da música homônima feita por Renato Russo em sua fase "Trovador Solitário" em 1982 e que estourou com seu Legião Urbana no segundo LP de 1986. O vídeo, com técnica Draw my Life,  traz várias referências ao atual cotidiano digital e de redes sociais. Assisti no FB em compartilhamento da antenada Ana Vidotti e pelo link pude conhecer outros trabalhos hilários deste ótimo site Duka7. O segundo vídeo** eu vi na TV mesmo e demonstra como essa guerra de marketing automotiva vem fazendo bem aos comerciais da categoria (vide Volkswagen e Hyundai). A agência Y&R, com produção da Partizan e direção de Antoine Bardou-Jacquet, na Espanha, revive os saudosos personagens da Corrida Maluca da Hanna Barbera, série de grande sucesso produzida entre 1968 e 1970 e replicada para pelo menos três gerações seguintes (graças aos reprises). Aqui, os desastrados corredores tentam disputar posições com o lançamento Peugeot 208.
A criatividade anda meio escondida entre prazos apertados e idéias forçadas, mas  ainda pode render bons filmes, mesmo que em raras e pequenas doses.
*Nova "Eduardo e Mônica": http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=gCVuTDDFjCo  
* Corrida Maluca/Peugeot 208: http://www.youtube.com/watch?v=zAsyF4J_klk

*Créditos de "Eduardo e Mônica 2013":
Desenhos - Luciano Andrade (http://lukesdrad.deviantart.com)
Edição - Gui Toledo e Bruno Felix
Áudio - Jp Caetano (Bateria), Luiz Angelo Pizzonia (Baixo e Violão) e Gui Toledo (voz, edição e mixagem)
Letra - Braian Rizzo, Bruno Felix, Gui Toledo, Luciano Andrade, Diego Ferraz, Thabata carvalho e toda a galera do facebook.

** Ficha do filme publicitário "Corrida Maluca/Peugeot":

Cliente: Peugeot
Produto: Peugeot Modelo 208
Título: Vitória
Duração: 1X60”/ 1X30”/ 1X5”
VP de Criação: Rui Branquinho
Direção de Criação: Victor Sant'Anna/ Rui Branquinho
Criação: Fabio Tedeschi/ Leandro Camara/ Felipe Pavani/ Victor Sant'Anna/ Rui Branquinho
Atendimento agência: Alessandro Cardoni / Waleska Bueno / Marina Freitas / Ana Coelho
Aprovação cliente: Frédéric Drouin / Frederico Battaglia / Alessandra Souza / Stephanie Sliepen
Planejamento: David Laloum / Cesar Ortiz / João Gabriel Fernandes / Rodrigo Magalhães
Mídia: Gustavo Gaion / Gabriela David / Rafael Leal
RTVC: Nicole Godoy/ Camila Naito/ Cleo Goncalves
Produtora Filme: Partizan/ Movie & Art
Direção: Antoine Bardou-Jacquet
Direção de Fotografia: Damien Morisot
Produtor executivo: Madeleine Sanderson/ Georges Bermann/ Douglas Costa/ David Stewart, Paulo Dantas
Atendimento produtora: Regiani Pettinelli/ Douglas Costa
Montagem: Bill Smedley
Pós produção/ finalização: ETC London
Produtora: A9 audio
Produtor: Apollo 9 e Henrique Racz
Atendimento: Roberto Faria
Finalização de audio: Factory UK
Data de produção: Abril 2013

25 de abril de 2013

Ella Fitzgerald ganha Doodle em aniversário de 96 anos

A grande diva Ella Fitzgerald foi homenageada pelo Google hoje com um chamativo Doodle ilustrado (acima). A saudosa intérprete americana faria 96 anos nessa quinta-feira.

23 de abril de 2013

Baú do Malu nº 38 - Folheto promocional da Rádio Cidade - Show de David Bowie no Parque Antárctica (1990)


Em 1990, David Bowie fez um show fantástico no Parque Antárctica/SP e eu pude acompanhar ao vivo bem próximo ao palco, na pista. Não me lembro quem estava comigo na muvuca, mas sei que uma galera bem grande da Metodista foi, mas na arquibancada. A cena mais marcante para mim foi ver um garoto, com seus 12 anos, sentado nos ombros do seu pai e chorando copiosamente ao som da eterna Ziggy Stardust. Não me deram o ingresso para guardar, infelizmente, mas consegui este folheto promocional acima, da Rádio Cidade (96,9 FM), guardado até hoje em uma de minhas várias caixas de memórias. Uma lembrança ínfima, mas preciosa, de um dos grandes shows internacionais cá no Brasil.

22 de abril de 2013

"Friedenreich - A Saga de um Craque nos Primeiros Tempos do Futebol Brasileiro" tem noite de autógrafos na Livraria da Vila


"Friedenreich - A Saga de um Craque nos Primeiros Tempos do Futebol Brasileiro" (Casa Maior Editorial), do jornalista Luiz Carlos Duarte, já vinha sendo comentado entre os aficionados por Futebol/História e já estava à venda em alguns poucos pontos estratégicos; agora, finalmente, terá um lançamento à altura, em noite de autógrafos com o autor, amanhã, na Livraria da Vila. Duarte fez um trabalho criterioso e minucioso - eu, orgulhosamente, ajudei-o a desenrolar alguns novelos dessa extensa pesquisa. A obra derruba vários mitos e lendas e comprova diversos momentos de genialidade do legendário craque. Além de mostrar pioneiramente a trajetória completa de Fried, jogo a jogo, e consequentemente, todos os gols marcados por ele - embora metade dos marcados pelo Rei Pelé, a média de gols é de impressionante 0,98 por partida (média maior que a de Pelé, de 0,93)) , a obra traz também fortes indícios de que a famosa e nunca vista lista que atribuía ao jogador 1329 gols, nunca tenha existido. A pesquisa também dá sustentação à tese de que Fried e outros craques do inicío do século passado como Neco e Heitor foram os criadores que geraram um estilo brasileiro único de jogar futebol, um "jeito" que se perpetuou até os dias atuais. Numa linguagem leve, cheia de curiosidades e histórias de bastidores, e sem perder a seriedade na apuração dos fatos, o livro é uma ótima pedida não só para os apreciadores da História do nosso futebol como para os interessados nos costumes gerais da sociedade da época.
" Friedenreich - A Saga de um Craque nos Primeiros Tempos do Futebol Brasileiro", de Luiz Carlos Duarte - Noite de Autógrafos.
Quando: amanhã (23/04) a partir das 18:30h
Onde: Livraria da Vila - Rua Fradique Coutinho 915 - Vila Madalena

19 de abril de 2013

Storm Thorgerson (1944-2013): depois dele, as capas de discos nunca mais foram as mesmas

Faleceu ontem, aos 69 anos, o artista gráfico Storm Thorgerson, famoso por suas criações para capas de discos de rock. A mais famosa (acima), para o álbum "The Dark Side of The Moon" do Pink Floyd (1973) é considerada por muitas pesquisas como a melhor de todos os tempos. Storm  foi amigo de adolescência dos membros do Pink Floyd e desde o início da banda tornou-se seu principal artista. O sucesso da parceria fez com que outras bandas encomendassem seus serviços e o resultado são essas capas maravilhosas, engenhosas, simétricas, por vezes surreais, que eu selecionei abaixo, dentre tantas com sua assinatura.
Muse - Absolution (2003)

Megadeth - Rude Awakening DVD (2002)

Pink Floyd - Wish You Were Here (1975)
Led Zeppelin - House of Holy (1973)
Pink Floyd - Animals (1977)
Syd Barret - The Madcap Laughs (1970)
Pink Floyd - Ummagumma (1969)
Pink Floyd - A Saucerfull of Secrets (1968)
Pretty Things - Savage Eyes (1975)

17 de abril de 2013

Coleção da Folha traz discos originais de Tom Jobim

A nova coleção "Folha - Tributo à Tom Jobim" teve início nesse último domingo,14, com dois livros-CDs (um grátis) e trará até o dia 20 de agosto, discos originais da discografia do maestro e duas compilações - total de 20 volumes. Os livretos seguem aquele padrão das coleções anteriores já abordadas aqui, com 48 páginas, capa dura e reprodução da capa original internamente. Os textos são dos feras Antonio Carlos Miguel, Carlos Calado (também editor da coleção), Lauro Lisboa Garcia, Lucas Nobile, Mauro Ferreira e Tárik de Souza e trazem análises de cada álbum e toda a contextualização histórica e biográfica em cada período. Os discos que inauguraram a coleção são: "Tom canta Vinicius- Ao Vivo" e "The Composer of Desafinado Plays". O ao vivo registra show de 1990 em homenagem ao grande amigo de Tom, o poetinha Vinicius de Moraes, parceiro seu em muitos clássicos - incluindo uma das músicas mais tocadas no mundo, "Garota de Ipanema"; já "The Composer...", original de 1963, é o primeiro disco solo de Tom Jobim, álbum que alavancou de vez sua carreira fora do país. Entram nele clássicos como "Água de Beber" (Vinicius de Moraes-Tom Jobim), "Samba de Uma Nota Só" (Tom Jobim - Newtom Mendonça), "Insensatez" (Tom Jobim - Vinicius de Moraes, aqui com letra de Norman Gimbel), Desafinado ( Tom Jobim - Newton Mendonça), "Chega de Saudade" (Tom Jobim - Vinicius de Moraes), "Meditação" ( Tom Jobim - Newton Mendonça, aqui como "Meditation"), "Corcovado" (Tom Jobim) e claro, "The Girl from Ipanema" (Tom Jobim - Vinicius de Moraes), aqui, ainda uma fresquíssima composição da dupla. Um disco genial, não há dúvidas.
No domingo que vem, mais um disco primordial: "Elis &Tom", antológico disco de 1974, considerado um dos maiores lançamentos da MPB.
Aqui, o vídeo que apresenta a coleção e todos os discos da coleção com os respectivos dias de lançamento:
http://tomjobim.folha.com.br/campanha.html
http://tomjobim.folha.com.br/colecao.html

12 de abril de 2013

Bau do Malú 37: Mickey nº22 (Julho de 1954 ) e Mickey nº33 (junho de 1955)

Depois de um ano, volto com a série "Baú do Malu". Não sei por que fiquei tanto tempo sem adicionar as relíquias do meu acervo aqui, já que eu sempre adorei desencavar o baú. A falta de tempo para escanear material e a falta de uma boa câmera fotográfica talvez sejam fatores que ajudaram nessa lacuna. Vou tentar a partir de agora postar pelo menos um por mês. Nesse nº37, duas capas maravilhosas da revista Mickey nos anos 50. Eu sempre pirei nas capas do Mickey da Editora Abril ( desde estas mais antigas até aquelas do início dos anos 70), tanto por suas cores, como por sua qualidade e gramatura (mais dura por exemplo, que as do Pato Donald no mesmo período, que saíam fininhas, fininhas). Também, por ilustrar sempre uma cena de uma aventura principal interna, ao contrário do O Pato Donald, que na maioria das capas teve sempre uma "gag". As duas revistas acima estão em muito bom estado e estão certamente entre meus xodós da coleção - encontrar as edições de 1952 a 1959 da revista Mickey nunca é tarefa fácil, mesmo na internet. Um detalhe: o ano certo para a capa do Mickey nº33 é IV e não VI como saiu.

10 de abril de 2013

Casão, um sobrevivente

Divulgação
Ganhei o livro "Casagrande e Seus Demônios" (Globo Livros) no começo da semana e ontem já o havia devorado. Baita biografia. Em parceria com o jornalista Gilvan Ribeiro, que trabalhou com o biografado na ESPN e Diário de S.Paulo, Casagrande, comentarista de futebol da TV Globo, literalmente expõe e expurga seus demônios. E a narrativa, que não segue ordem cronológica, já começa com uma das piores experiências do ex-jogador ídolo do Corínthians: a terrível experiência de delírio em seu apartamento enquanto se drogava com três substâncias diferentes (heroína inclusive), adicionadas à remédio e tequila. Em suas visões, demônios passeavam tranquilamente pelos cômodos de sua residência e ao entrar em paranóia por conta da aparição de uma moça que ele julgava ter morrido ali anteriormente, deixou o ap de pernas pro ar. O desespero chegou a tal ponto que Casão chamou seus pais, que diante de seu relato via telefone, acabaram levando um padre. No fim, Casagrande , ainda confuso e em choque, foi para um hotel com sua noiva. As aparições continuaram e ele resolveu sair dali também. Por ter ficado em surto, sem comer e sem dormir por dias, acabou apagando quando dirigia sua Cherokee no bairro da Lapa, batendo em seis carros e capotando. Por sorte não houve vítimas e tanto ele como a noiva não tiveram sequelas graves. Mas esse acidente, além de repercutir em mídia nacional, virou um divisor de águas para o ex-artilheiro,  que desde a adolescência era usuário de drogas: durante os três dias em que ficou em coma no Hospital Albert Eistein, a família, ciente da gravidade da situação, resolveu interná-lo à sua revelia em uma clínica especializada em dependência química. Casão ficou um ano ali e isso mudou toda a sua vida. Uma vida cheia de aventuras, ímpetos, rebeldias, política, indisciplinas, gols e jogadas maravilhosas, shows e muito rock, inconsequências, sinceridade, humor, desespero, amor, filhos, amigos, mentiras, limites, voltas por cima, coragem. Uma vida repleta de vida e luta pela vida. Lendo o livro, que alterna fundos do poço com situações hilárias, lê-se a alma de um sobrevivente: Walter Casagrande Jr.

8 de abril de 2013

Julia Kendall, criminóloga, alcança 100 edições no Brasil


"J.Kendall - Aventuras de uma Criminóloga", graças ao empenho e esforço despendido pela Editora Mythos e sua apaixonada equipe de colaboradores, conseguiu alcançar o número 100 em terra brasilis! Por sérios problemas técnicos relacionados à gráfica, esta edição, com data de março, saiu apenas no início de abril, como todo o restante da linha Sergio Bonelli Editore publicada pela editora no Brasil. Também por esse motivo, a edição não pôde ser colorida como a original italiana - os editores aqui optaram pelo p&b para não acarretar um atraso maior. Sobrepujando os obstáculos editoriais e o quase cancelamento da série por algumas vezes - sempre evitado por um fiel grupo de leitores brasileiros - a instigante revistinha em quadrinhos segue em bancas e se depender da minha torcida, por muito tempo ainda. Eu a coleciono desde o seu nº1, publicada ainda como Julia em novembro de 2004. Por decisão da justiça, o título teve de ser alterado para "J. Kendall", por já existir em bancas uma revista chamada Júlia ( aquela mesma, popular, com romances lacrimosos e preço em conta). Os roteiros, sempre do perspicaz Giancarlo Berardi ( o mesmo do cult Ken Parker) são dinâmicos, elaborados e prendem o leitor em tramas muito bem conduzidas e surpreendentes. Referências à clássicos da música e do cinema não faltam e as próprias caracterizações dos personagens vêm de personalidades consagradas: a especialista forense Júlia Kendall é a cara e o corpo da clássica e elegante Audrey Hepburn, a Holly Golightly de "Bonequinha de Luxo"; sua fiel governanta/doméstica/cozinheira Emily, é idêntica à espevitada Whoopi Goldberg; vários vilões e coadjuvantes lembram artistas da telona. Com todos esses atributos e críticas favoráveis, não dá pra entender por que a série sofre com as vendas, enquanto alguns super-heróis com roteiros apelativos/repetitivos e desenhos medianos se mantém com mais folga nas bancas. Eu conheço muita gente boa por aí que conhece superficialmente a personagem. A Mythos a mantém viva no país porque sabe do seu potencial. Talvez uma ação mais incisiva de marketing, mesmo que focada apenas nos grandes eventos de quadrinhos( Comix, FIQ, etc) seja um pontapé para uma estadia mais tranquila da querida Julia entre nós.

6 de abril de 2013

Sabadão tem Feira do Vinil e Kães Vadius em Santo André e Bagunça Literária em Sampa





Hoje é um sábado bem agitado. Em Santo André, a prefeitura realiza no Paço Municipal evento de aniversário que une a Feira do Vinil e um show com o lendário Kães Vadius. A feira inicia às 10h da manhã e segue até as 18h; o show tem previsão para iniciar às 15h. Uma ótima oportunidade para rever velhos amigos, encontrar discos raros ou especiais e curtir uma banda que já tem uma história de quase trinta anos no rock brasilis, sempre com o inoxidável Hulk'abilly à frente. Pra completar o dia, à noite rola em Sampa a aguardada Bagunça Literária, encontro de editoras independentes com lançamentos e descontaços. Esse ano o evento está maior e conta com 6 editoras: Arte&Letra, Draco, Estronho, Fantas, Llyr e Tarja. Todas seguem a linha de aventuras fantásticas, medievais, sci-fi e terror, com destaque para os dragões e vampiros - inclusive com quadrinhos entre os lançamentos e a presença de vários autores. São ou não são dois encontros independentes e culturais até a alma? quem conseguir aparecer nos dois vai deixar carimbar o sábado.

* Feira do Vinil e Kães Vadius
Paço Municipal de Santo André
06/04/2013 - a partir das 10h da manhã.
Entrada Franca

* Bagunça Literária
Pier 1327
Rua Joaquim Távora, 1327 - São Paulo/SP

2 de abril de 2013

Oscar Niemeyer, atemporal


(Nota do Malu): o genial Oscar Niemeyer deixou o nosso planetinha no final de 2012. Eu estava de férias e ao invés de um post sobre o homem, preferi ler tudo o que eu tinha sobre ele aqui em casa e mandar pro alto uma boa vibração para o velho arquiteto. Uma troca justa, visto as centenas de obras iluminadas e positivas que deixou sobre nossa superfície. Ontem, ao limpar minha caixa do gmail ( que não visitava a um bom tempo) me deparei com uma jóia escrita pelo meu amigo Rogério Engelmann, chapa e colaborador desse blog. E fiquei ainda mais entusiasmado quando vi que em sua mensagem ele ofereceu-me o texto para publicação no Almanaque. Uma honra e um grande acerto: esse texto não poderia ficar inédito, trancado em uma gaveta qualquer. E quanto a dúvida se ficou muito tarde para a sua publicação, bobagem. O blog não se prende a novidades e o velho Oscar sempre foi atemporal, seja em suas obras, seja em sua existência. Segue lá:

                                     

                                       Oscar Niemeyer (1907-2012)

por Rogério Engelmann**
Acredito que tudo sobre ele já foi dito: que é bom, que é ruim, que é repetitivo, e que nunca se repete, que teve sorte, que já passou o tempo dele, que não passou, que é metido e esnobe, e que não é, que estava no lugar certo na hora certa, e muitas outras mais. Inclusive por ele mesmo, que ouvi várias vezes dizer que "a arquitetura não importa, importa mesmo é a vida, os amigos e as pessoas".
Suas obras, inconfundíveis, são admiradas ou odiadas, mas como ele mesmo dizia, "você pode não gostar, mas não pode falar que já viu algo igual..." Fazia questão da imaginação, da invenção, da surpresa. Seus projetos sempre foram acompanhados de textos explicativos, e ele ensinava: "se o texto não ficou claro, não explica bem, é porque o projeto ainda não está bom, tem problema, precisa mexer, melhorar..."
Seu discurso sempre foi tranquilo, essencial, simples (não simplório, simples mesmo), em suas palestras contava quase sempre as mesmas histórias, das mesmas obras. Talvez porque gostasse mais daquelas, pois projetos e obras não faltavam, foram cerca de 600 (isso mesmo: seiscentas)  obras construídas e projetos, no Brasil e pelo mundo, em cerca de 75 anos de carreira, o que corresponde, em média a uma a cada 45 dias. E cada uma delas poderia ser o projeto da vida de muito arquiteto por aí, inclusive (muitos) daqueles que falam mal.
Das palestras que assisti, me marcou uma em particular, nos tempos de faculdade (1993, ele tinha então 85 anos) em que pude conversar com ele muito rapidamente. Findado a apresentação, a mesa do velho mestre foi inesperadamente cercada pelos estudantes. A organização tentou dispersar-nos, porém, rompendo o protocolo, a pedido de Niemeyer formou-se uma fila imensa de estudantes (e depois até professores...), e ele atendeu a todos um a um, por cerca de duas horas. Aperto de mão, autógrafo, uma foto, um sorriso: "Vocês me pegaram de surpresa!..."
A crítica? Ora, a crítica. O que posso dizer ou acrescentar? Me atrevo a dizer que Oscar Niemeyer foi nosso maior artista pop. Através da arquitetura, criou verdadeiros ícones cujo significado expresso hoje é: Brasil. As colunas do Palácio da Alvorada em Brasília, por exemplo. Ou o "s" do Edifício Copan em São Paulo. Ou ainda a "taça" do Museu de Niterói. Mais recentemente o "olho" do Museu de Curitiba. E tantos outros.
Os alemães tem uma palavra, "zeitgeist", para designar o dia. Significa literalmente "espírito do dia", é a essência, o humor, ou, como dizemos por aqui, o astral do dia. E Oscar, antenado como todos os gênios, soube captar esses momentos, o "espírito do dia" e plasmá-lo em edifícios. Traduziu o nosso espírito do dia "zeitgeist" em traços imortais. Seja no conjunto da Pampulha em Belo Horizonte; seja em Brasília, a obra-prima; seja no Copan, obra que renegou; no Parque do Ibirapuera que adoramos, no Detran, ou no Memorial da América Latina, nos museus de Niterói, de Curitiba, na nova sede do governo de Minas Gerais e tantos outros, nos legou o desenho de um Brasil moderno, futurista, dos cinquenta anos em cinco, Brasil da Bossa Nova, o Brasil vanguarda. Detentor da carteira profissional no. A.000.001 do recém criado CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo, Doutor Honoris Causa várias e várias vezes aqui e mundo afora, o cidadão do mundo Oscar Niemeyer, como disse Ricardo Ohtake, será muito provavelmente um dos poucos, senão o único brasileiro do século XX que será lembrado no século XXX.
E nos deixa, após quase 105 anos de vida, 80 dos quais dedicados a arquitetura, num vazio enorme.
Vazio que tanto prezava nos edifícios. Vazios incríveis como o da marquise do Parque do Ibirapuera, do Pavilhão da Bienal, da Oca, do foyer do teatro do Memorial da América Latina e sua escada fantástica.
Vazio como o da Catedral de Brasília, na minha opinião o mais impactante.


Oscar, o então comunista que se dizia ateu, conquistou seu lugar no céu com a Catedral de Brasília. O prédio é em si uma prece. Desconcertante pela simplicidade de sua composição, é formado por uma única peça de concreto, repetida dezesseis vezes, armadas e fundidas no chão e içadas uma a uma numa planta circular. Os vãos entre as peças são vedados por vidros. o acesso é subterrâneo, através de rampa e túnel longos, que dá acesso direto à nave, grande espaço, único. Vazio. Que pelos vitrais é inundado de luz por todos os lados.



Luz do céu.
O céu imenso de Brasília.

** Rogério Engelmann é arquiteto

1 de abril de 2013

Betty Boop em miniatura nas bancas

Hoje levei um (bom) susto na banca do Carlão - banca em que bato cartão aqui no meu bairro. Em um grande cartaz, a famosa pin-up dos desenhos animados dos anos 30 aparecia do alto de suas pernas para anunciar a sua coleção de miniaturas que sai quinzenalmente nas bancas a partir de agora. A coleção, baseada em fascículos franceses e que já foi lançada nos mesmos moldes em Portugal no ano passado ( veja resenha do ótimo blog lusitano As Leituras do Pedro sobre o lançamento lá: http://asleiturasdopedro.blogspot.com.br/2012/09/as-figuras-do-pedro-xxiv.html) parece ser muito bem resolvida e traz, além da miniatura de resina fielmente desenhada e pintada à mão, uma revista-fascículo e um folheto com detalhes da coleção e da feitura das miniaturas. O primeiro fascículo vem com o perfil histórico da personagem e todo seu universo na animação, uma página em quadrinhos (com os balões originais em inglês e tradução no final da página), ensaio sobre o mito das pin-ups e um passeio pelos anos 30 nos EUA. Uma coleção vistosa e que dá água na boca. O único porém é o de sempre: se o primeiro volume sai por módicos R$5,90 e o segundo por R$17,90 (ainda em conta), os outros cinquenta e oito* saem o dobro, o que acaba sendo uma coleção bem dispendiosa. Para quem se garante, uma maravilha. Para os outros, e eu me encaixo nesse segundo grupo, resta o uni-duni-tê - escolher um número x de miniaturas para não esfolar o bolso. Independente desse obstáculo monetário - que até é plausível por se tratar de arte pura - essa coleção trazida ao Brasil pela Salvat Editores ( lembro da Salvat desde minha tenra infância!) merece aplausos. Quem sabe não seja um pontapé inicial para outras coleções do mesmo nível, com temas ligados à animação e aos quadrinhos, aportarem nas bancas...nesse 2013, já temos a bela coleção do Star Wars e agora a diva Betty Boop.
Detalhes da coleção de Portugal, similar à brasileira, aqui: http://www.salvat.com/pt/coleccoes/bettyboop/

* chutei 58 fascículos seguintes me baseando na coleção portuguesa. A brasileira não cita em nenhum lugar até que número irá.