28 de fevereiro de 2018

Na linha, com Miriam Batucada

No início de 1994 eu trabalhava no departamento de documentação da Editora Abril (DEDOC) e numa certa segunda feira de maio, bem cedo, recebi uma ligação que me curou instantaneamente de qualquer resquício de ressaca do domingo. A voz do outro lado da linha iniciou a conversa mais ou menos assim, depois que me apresentei: - "Oi, belo, aqui quem fala é a Miriam Batucada, meu! Tô querendo ver umas fotinhos minhas aí no seu arquivo e queria combinar uma visitinha aí, pode ser, belo?" Combinei para a semana seguinte, com a expectativa de encontrar ao vivo aquela grande figura que eu conhecia da gravação do anárquico disco coletivo ao lado de Raul, Sergio Sampaio e Edy Star, O "Sociedade da Grã- Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10", que foi feito sem o conhecimento da gravadora CBS pelo então funcionário da major, Raul Seixas. Fiquei frustrado pois ela não apareceu no dia marcado e nem ligou de novo. Uns dois meses depois li no jornal que ela tinha sido encontrada morta em seu apartamento, onde morava sozinha. Tinha só 47 anos. Desde então procurei escutar mais suas gravações, que não foram muitas, e a impressão que tenho é que ela foi muito mal aproveitada na carreira, lançando apenas dois LPs e uma meia dúzia de compactos. Miriam tem ótimos momentos como intérprete, embora pareça que nunca tenha encontrado uma sequência mais sólida para sua carreira. Uma das dificuldades foi justamente sair do estereótipo de "paulistana da gema". Sua irreverência hoje faz muita falta.

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